Transtornos mentais devem ser a principal causa de afastamentos até 2020, segundo indicadores
No Brasil, o estresse já é a terceira causa de afastamentos com mais de 15 dias nas empresas.
As instabilidades psíquicas ou orgânicas causadas por inúmeros fatores podem, ou não, estar relacionadas à rotina de trabalho, mas com certeza irão atingir diretamente a empresa.
As estatísticas e indicadores demonstram que em 2020 os transtornos mentais devem ser a principal causa de afastamentos.
Pensando nisso, o Programa Trabalho Seguro, criado em 2011 pelo TST (Tribunal Superior do Trabalho), escolheu o tema “Transtornos mentais relacionados ao trabalho” para discussão no biênio 2016/2018.
Caracterizar a real causa das perturbações é muito difícil, pois geralmente há fatores desencadeados ao longo do tempo. “O estresse consiste em um conjunto de perturbações que caracterizam o desequilíbrio físico e psíquico.
Esse problema altera o cotidiano da pessoa em todos os sentidos, abalando o relacionamento com os colegas de trabalho, desempenho das atividades e, consequentemente, a produção na empresa”, explica Marcia Ramazzini, engenheira de segurança do trabalho.
Segundo a especialista, o estresse pode ser classificado em dois tipos. O estresse ocupacional é geralmente de ordem organizacional, como conflitos com a chefia, responsabilidades mal delegadas, trabalho monótono ou repetitivo, entre outras atitudes vivenciadas dentro da empresa ou até mesmo fora, para aqueles que trabalham remotamente em escritórios compartilhados.
Já o estresse não ocupacional é causado por fatores externos, tais como a morte de um ente querido, separação, problemas financeiros ou com os filhos, abusos físicos ou sexuais, brigas, entre outros que acontecem fora do ambiente de trabalho, mas que interferem no desempenho do funcionário durante a jornada.
O funcionário que está sofrendo com essas perturbações demonstra por meio de sintomas fisiológicos, como úlceras, gastrites, gastroenterites e aumento da pressão arterial. Agressividade, frustração e baixa autoestima também são consequências que se apresentam como sintomas psicológicos, assim como baixo desempenho, absenteísmo, presenteísmo e danos intencionais também são resultados de algum tipo de estresse e caracterizam os sintomas de aspecto comportamental.
A especialista explica que existem programas específicos que começam pela alta direção e chegam até o chão de fábrica com objetivo de despertar a conscientização, observação e sensibilidade dos funcionários que, por muitas vezes, não percebem os sintomas demonstrados pelos colegas de trabalho. “A prevenção cabe ao departamento de Gestão Ocupacional, porém os funcionários podem ser treinados e atuar como observadores comportamentais. Treinados, conseguem identificar com mais facilidade esses desvios”, completa.
Ainda segundo a consultora, a probabilidade de acidentes com funcionários estressados é muito alta e, por isso, o departamento de Gestão Ocupacional deve estar sempre atento e criar estratégias de prevenção e cuidados. “O funcionário com transtornos mentais não detectados e tratados pode chegar a casos extremos. Exemplo disso é o caso do copiloto da Arjowwings que derrubou o avião resultando em 150 mortes”, alerta a especialista.
Casos de estresse, afetam tanto o colaborador quanto a empresa, pois em casos de afastamentos a empresa fica, por um tempo, sem o funcionário treinado para a função. “No primeiro momento, o chefe precisa identificar, treinar e habilitar um colaborador que cubra as tarefas. Isso irá demandar tempo”, explica Marcia.
Outra importante questão é que o aumento do índice de afastamento impacta a empresa devido ao aumento das alíquotas previdenciárias. O Fator Previdenciário de Prevenção (FAP) é um exemplo disso, que por conta dessas ocorrências pode ter a alíquota dobrada. “As empresas devem começar a se preocupar e adotar programas específicos lembrando que é de nossa responsabilidade manter a integridade física e mental dos funcionários”, finaliza a especialista.
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